Uma das
perguntas que mais se faz na área da educação é a seguinte: qual é a utilidade
do ensino das teorias com que a escola se envolve na maior parte do seu tempo
curricular? A pergunta visa a valorização absoluta do pragmatismo imediato, em
detrimento da busca aprofundada do conhecimento.
Refletindo
sobre o assunto, pode-se perceber as diminutas limitações desse raciocínio. É
de ver que, para o enfrentamento da complexidade da vida moderna, não basta um
conhecimento superficial. Os tempos atuais exigem que o homem seja capaz de
pensar soluções e tomar atitudes de profundas consequências, as quais, se
erradas, podem trazer prejuízos de dimensões catastróficas. Uma empresa
milionária pode quebrar da noite para o dia por conta de uma decisão mal
tomada, porquanto mal pensada.
O homem moderno
deve compreender o valor das idéias e vê-las como possibilidades. Ainda me
recordo de uma cena do filme “A máquina
do Crescimento” (1988), em que o personagem Lloyd, vivido por Adam Carl,
inventor de uma máquina capaz de fazer sementes se transformarem em árvores em
poucos segundos, mostra três sementes de abóbora para o seu amigo namorador
Danny (Steven Eckholdt), um garoto comum de quatorze anos, que se apaixonara
por sua professora (vivida pela bela Daphne Ashbrook), perguntando-lhe o que
ele via. Danny diz que via três sementes de abóbora, ao que Lloyd respondeu:
“Você vê sementes de abóbora; eu vejo possibilidades”.
Essa é a
diferença entre aquele que deseja conseguir resultados práticos imediatos,
tratando a vida como algo estático, parado no tempo, contrariando a fluidez e o
progresso da humanidade. Já dizia Heráclito que tudo flui o tempo inteiro e “a água que corre no rio hoje, já não é mais
a água de ontem; aquela já está no mar”. Os problemas da vida não se
repetem. O homem de hoje precisa ser capaz de reagir frente às adversidades que
surgirão em seu caminho. Portanto, deve ser um pensador, um buscador de novas
soluções e respostas aos desafios que surgirão das formas mais inusitadas possíveis.
Tudo o que
temos hoje em dia, outrora não passava de possibilidades. Todavia, ainda que
contrariando as evidências, alguém acreditou que era possível transformar a
utopia em realidade. E
envidou tempo, estudos, recursos e tudo o que tinha para ver isso acontecer.
Muitos morreram sem ver os resultados. Mas outros, seguindo suas pegadas deram
continuidade à busca dos resultados desejados e hoje nós colhemos os frutos
desse esforço e desse sacrifício, beneficiando de uma tecnologia até hoje nunca
vista.
Os primeiros
pensadores deram passos corajosos de gigantes, desafiando os mitos das
religiões ancestrais, explicando de forma lógica e racional a origem de todas
as coisas. Ainda que não estivessem certos em tudo, eles ousaram pensar,
idealizar e dar uma origem para todas as coisas. Foram essas idéias que fizeram
nascer as ciências especializadas em cada ramo do saber.
É muito
importante que o homem de hoje conheça a trajetória que seus ancestrais
percorreram para chegar aos dias atuais. É de saber que esses progressos
científicos que se vislumbram em nossos dias não caíram do céu e nem servirão para
todo o sempre. Eles precisarão ser aperfeiçoados, melhorados, modificados ou
mesmo substituídos por outros totalmente diferentes. Mas toda e qualquer
mudança, para que seja proveitosa, deve partir de uma dada realidade. Não se
pode ignorar os princípios e os fundamentos do conhecimento. Deve-se
conhecê-los para não incorrer nos mesmos erros dos que erraram e nem tampouco
ficar patinando na mesma descoberta.
Ao analisar as
bases do pensamento passado, o homem de hoje avançará. Ele não partirá da
estaca zero, mas seguirá a rota traçada pelos seus ancestrais.
Eu sonho com o
dia em que estaremos nos teleportando pelos quatro cantos do universo de forma
quase instantânea. Poderemos nos livrar de hecatombes e de quaisquer outros
perigos por esse meio. Conheceremos como nunca se conheceu, porque não haverá
limites para pormos os nossos pés. E sonho com tantas coisas mais. Eu acredito
que um dia seremos verdadeiros deuses, tantas serão as nossas possibilidades.
Mas isso só será possível quando aprendermos a cooperar uns com os outros,
dando nossas idéias e respeitando as idéias dos outros; quando aprendermos que
o novo é uma sucessão de muitos velhos. Meu filho não é apenas o meu herdeiro
genético. Ele é o herdeiro de toda a humanidade, mas precisa valorizar e se
apropriar de sua herança, sob pena dela não ter-lhe qualquer valor.
O homem deve
adquirir um completo domínio das linguagens para ser capaz de transmitir e
receber idéias com efetividade. Nossas idéias e as dos nossos ancestrais
poderão se perder no vazio cosmológico, caso sejamos incompetentes para
legá-las às novas e futuras gerações. Nesse momento estou legando essa reflexão
a todos os homens “ad infinito”.
É de observar
ainda que os instrumentos de cálculo hoje utilizados são bastante avançados,
mas ainda não foram suficientes para nos tirar das bordas do universo. Ainda
estamos avistando a praia. Navegamos poucas jardas. Precisamos de instrumentos
mais eficientes para o cálculo, a fim de que possamos avançar rumo ao
desconhecido cosmológico, como precisaram os nossos ancestrais do século XV
para realizar as chamadas grandes navegações. Da pesquisa de Wanessa de Souza[i],
destaco o seguinte excerto:
Apesar
do medo que o oceano provocava e das dificuldades técnicas de se viajar por
ele, nos fins do século XV, os europeus conseguiram desvendar seus mistérios,
movidos por questões econômicas, políticas, religiosas, e até mesmo pelo
fascínio que ele despertava. O que permitiu as grandes viagens marítimas, nesse
período, foi o desenvolvimento dos instrumentos de navegação, a criação de
embarcações mais resistentes e modernas, os incentivos e investimentos
financeiros e também a disposição dos navegadores para viajar. Instrumentos
como a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante, etc, há
muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse período, bastante divulgados
entre os europeus e aperfeiçoados por eles. A criação da caravela pelos
portugueses, foi outro importante fator que possibilitou as viagens marítimas,
pois ela era uma embarcação forte, que permitia enfrentar correntes e
tempestades do alto mar, era veloz e dotada de bom espaço para carregar a
tripulação e a carga.
Quanta importância teve a ampulheta, a
balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante e tantas outras criações da
genialidade daquele tempo que hoje consideramos ultrapassadas.
A revisão das idéias matemáticas
desenvolvidas ao longo da trajetória humana na Terra poderá ser o canal para a
descoberta de novas potencialidades de construção de ferramentas mais avançadas
e mais poderosas, as quais nos ajudarão na caminhada em direção ao núcleo onde
tudo começou e, avançando além dele, atingir a fronteira final na reta dos
cento e oitenta graus. Então acredito que tudo o que nos pareceria impossível
deverá se tornar possível e já não haverá segredos para nós. E seremos como
deuses.
É isso que estamos querendo ensinar na
escola. Para apagar fogo, temos os bombeiros. Para as soluções quotidianas,
temos o conhecimento cristalizado. Mas para resolver os enigmas do futuro, só
contamos com as escolas que se preocupam em discutir o conhecimento teórico
acumulado pela humanidade, que não apenas usa a tecnologia, mas que inova e
constrói a partir do que se tem, tantas e quantas forem as possibilidades.
Eu trabalho e faço parte de uma escola
que se baseia no conhecimento passado e presente para construir o conhecimento
futuro, porque esse é o tipo de conhecimento que entendo ser útil para a
humanidade da qual faço parte[ii].
[i] Souza, Wanessa de. As grandes navegações e o
descobrimento do Brasil. Disponível em:
.
Acesso em: 7 fev 2012.
[ii] Sousa,
Izaias Resplandes de. Pedagogo, Matemático e Advogado. Professor de Matemática
da Rede Pública Estadual de MT. Leciona nas escolas Pe. César Albisetti e Profª
Juracy Macêdo em Poxoréu, MT.
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