terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O VALOR DO ENSINO TEÓRICO


Autor: Prof. Izaias Resplandes de Sousa. Foto: Prof. Izaias e Prof. Geniel (Matemáticos)

Uma das perguntas que mais se faz na área da educação é a seguinte: qual é a utilidade do ensino das teorias com que a escola se envolve na maior parte do seu tempo curricular? A pergunta visa a valorização absoluta do pragmatismo imediato, em detrimento da busca aprofundada do conhecimento.
Refletindo sobre o assunto, pode-se perceber as diminutas limitações desse raciocínio. É de ver que, para o enfrentamento da complexidade da vida moderna, não basta um conhecimento superficial. Os tempos atuais exigem que o homem seja capaz de pensar soluções e tomar atitudes de profundas consequências, as quais, se erradas, podem trazer prejuízos de dimensões catastróficas. Uma empresa milionária pode quebrar da noite para o dia por conta de uma decisão mal tomada, porquanto mal pensada.
O homem moderno deve compreender o valor das idéias e vê-las como possibilidades. Ainda me recordo de uma cena do filme “A máquina do Crescimento” (1988), em que o personagem Lloyd, vivido por Adam Carl, inventor de uma máquina capaz de fazer sementes se transformarem em árvores em poucos segundos, mostra três sementes de abóbora para o seu amigo namorador Danny (Steven Eckholdt), um garoto comum de quatorze anos, que se apaixonara por sua professora (vivida pela bela Daphne Ashbrook), perguntando-lhe o que ele via. Danny diz que via três sementes de abóbora, ao que Lloyd respondeu: “Você vê sementes de abóbora; eu vejo possibilidades”.
Essa é a diferença entre aquele que deseja conseguir resultados práticos imediatos, tratando a vida como algo estático, parado no tempo, contrariando a fluidez e o progresso da humanidade. Já dizia Heráclito que tudo flui o tempo inteiro e “a água que corre no rio hoje, já não é mais a água de ontem; aquela já está no mar”. Os problemas da vida não se repetem. O homem de hoje precisa ser capaz de reagir frente às adversidades que surgirão em seu caminho. Portanto, deve ser um pensador, um buscador de novas soluções e respostas aos desafios que surgirão das formas mais inusitadas possíveis.
Tudo o que temos hoje em dia, outrora não passava de possibilidades. Todavia, ainda que contrariando as evidências, alguém acreditou que era possível transformar a utopia em realidade. E envidou tempo, estudos, recursos e tudo o que tinha para ver isso acontecer. Muitos morreram sem ver os resultados. Mas outros, seguindo suas pegadas deram continuidade à busca dos resultados desejados e hoje nós colhemos os frutos desse esforço e desse sacrifício, beneficiando de uma tecnologia até hoje nunca vista.
Os primeiros pensadores deram passos corajosos de gigantes, desafiando os mitos das religiões ancestrais, explicando de forma lógica e racional a origem de todas as coisas. Ainda que não estivessem certos em tudo, eles ousaram pensar, idealizar e dar uma origem para todas as coisas. Foram essas idéias que fizeram nascer as ciências especializadas em cada ramo do saber.
É muito importante que o homem de hoje conheça a trajetória que seus ancestrais percorreram para chegar aos dias atuais. É de saber que esses progressos científicos que se vislumbram em nossos dias não caíram do céu e nem servirão para todo o sempre. Eles precisarão ser aperfeiçoados, melhorados, modificados ou mesmo substituídos por outros totalmente diferentes. Mas toda e qualquer mudança, para que seja proveitosa, deve partir de uma dada realidade. Não se pode ignorar os princípios e os fundamentos do conhecimento. Deve-se conhecê-los para não incorrer nos mesmos erros dos que erraram e nem tampouco ficar patinando na mesma descoberta.
Ao analisar as bases do pensamento passado, o homem de hoje avançará. Ele não partirá da estaca zero, mas seguirá a rota traçada pelos seus ancestrais.
Eu sonho com o dia em que estaremos nos teleportando pelos quatro cantos do universo de forma quase instantânea. Poderemos nos livrar de hecatombes e de quaisquer outros perigos por esse meio. Conheceremos como nunca se conheceu, porque não haverá limites para pormos os nossos pés. E sonho com tantas coisas mais. Eu acredito que um dia seremos verdadeiros deuses, tantas serão as nossas possibilidades. Mas isso só será possível quando aprendermos a cooperar uns com os outros, dando nossas idéias e respeitando as idéias dos outros; quando aprendermos que o novo é uma sucessão de muitos velhos. Meu filho não é apenas o meu herdeiro genético. Ele é o herdeiro de toda a humanidade, mas precisa valorizar e se apropriar de sua herança, sob pena dela não ter-lhe qualquer valor.
É de lembrar que uma boa idéia somente será boa se puder interagir com as demais.
O homem deve adquirir um completo domínio das linguagens para ser capaz de transmitir e receber idéias com efetividade. Nossas idéias e as dos nossos ancestrais poderão se perder no vazio cosmológico, caso sejamos incompetentes para legá-las às novas e futuras gerações. Nesse momento estou legando essa reflexão a todos os homens “ad infinito”.
É de observar ainda que os instrumentos de cálculo hoje utilizados são bastante avançados, mas ainda não foram suficientes para nos tirar das bordas do universo. Ainda estamos avistando a praia. Navegamos poucas jardas. Precisamos de instrumentos mais eficientes para o cálculo, a fim de que possamos avançar rumo ao desconhecido cosmológico, como precisaram os nossos ancestrais do século XV para realizar as chamadas grandes navegações. Da pesquisa de Wanessa de Souza[i], destaco o seguinte excerto:

Apesar do medo que o oceano provocava e das dificuldades técnicas de se viajar por ele, nos fins do século XV, os europeus conseguiram desvendar seus mistérios, movidos por questões econômicas, políticas, religiosas, e até mesmo pelo fascínio que ele despertava. O que permitiu as grandes viagens marítimas, nesse período, foi o desenvolvimento dos instrumentos de navegação, a criação de embarcações mais resistentes e modernas, os incentivos e investimentos financeiros e também a disposição dos navegadores para viajar. Instrumentos como a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante, etc, há muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse período, bastante divulgados entre os europeus e aperfeiçoados por eles. A criação da caravela pelos portugueses, foi outro importante fator que possibilitou as viagens marítimas, pois ela era uma embarcação forte, que permitia enfrentar correntes e tempestades do alto mar, era veloz e dotada de bom espaço para carregar a tripulação e a carga.

Quanta importância teve a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante e tantas outras criações da genialidade daquele tempo que hoje consideramos ultrapassadas.
A revisão das idéias matemáticas desenvolvidas ao longo da trajetória humana na Terra poderá ser o canal para a descoberta de novas potencialidades de construção de ferramentas mais avançadas e mais poderosas, as quais nos ajudarão na caminhada em direção ao núcleo onde tudo começou e, avançando além dele, atingir a fronteira final na reta dos cento e oitenta graus. Então acredito que tudo o que nos pareceria impossível deverá se tornar possível e já não haverá segredos para nós. E seremos como deuses.
É isso que estamos querendo ensinar na escola. Para apagar fogo, temos os bombeiros. Para as soluções quotidianas, temos o conhecimento cristalizado. Mas para resolver os enigmas do futuro, só contamos com as escolas que se preocupam em discutir o conhecimento teórico acumulado pela humanidade, que não apenas usa a tecnologia, mas que inova e constrói a partir do que se tem, tantas e quantas forem as possibilidades.
Eu trabalho e faço parte de uma escola que se baseia no conhecimento passado e presente para construir o conhecimento futuro, porque esse é o tipo de conhecimento que entendo ser útil para a humanidade da qual faço parte[ii].



[i] Souza, Wanessa de. As grandes navegações e o descobrimento do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 7 fev 2012.

[ii] Sousa, Izaias Resplandes de. Pedagogo, Matemático e Advogado. Professor de Matemática da Rede Pública Estadual de MT. Leciona nas escolas Pe. César Albisetti e Profª Juracy Macêdo em Poxoréu, MT.

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