Investimento de 10% do PIB em educação não passa de uma caríssima demagogia barata; sem uma profunda reforma do sistema, haverá só aumento da ineficiência; Brasil já gasta uma fábula na área
04/06/2014 às 6:53
O
Congresso aprovou o tal Plano Nacional de Educação, que agora vai para a
sanção da presidente Dilma Rousseff. A principal medida — aquela que
gera mais títulos da imprensa — é a que eleva, de forma gradual, os
gastos da União, Estados e municípios com o setor a 10% do PIB até 2024.
Em cinco anos, tem de chegar a 7% — hoje, está em 5,7%. As unidades da
federação que não conseguirem cumprir com a sua parte terão de ser
socorridas pela União. No papel, será tudo lindo: o plano prevê, para os
próximos dez anos, entre outras coisas, a universalização do ensino
infantil e pré-escola para crianças de 4 e 5 anos, do ensino fundamental
e do ensino médio, a erradicação do analfabetismo, a superação das
desigualdades educacionais, a valorização do professor e creches para
pelo menos 50% das crianças de até 3 anos.
Falta
ainda detalhar muita coisa, mas vamos lá. Será que o Brasil investe
pouco em educação? A resposta, acreditem!, é “não!”. O nosso país
investe é mal. Se não houver uma profunda reforma do sistema — que passe
pela implementação de mecanismos de aferição de qualidade, podem
esquecer! Nada vai acontecer. Faço uma pergunta básica, elementar,
primária até. E a resposta não é menos óbvia: de que instrumentos
dispõem hoje as três esferas da Federação — municípios, Estados e União —
para cobrar resultados dos profissionais de educação, de sorte que
possam premiar o mérito e punir a baixa qualidade? O país não dispõe nem
mesmo de um currículo mínimo. Devemos ser o único país do mundo a ter
um exame de caráter nacional, que dá acesso a ensino superior público e
gratuito — o Enem — sem ter conseguido definir, afinal, o que se deve
ensinar.
Sei que
muita gente ficará chocada, mas o que fazer com a verdade senão
explicitá-la? Em relação ao PIB, o Brasil está entre os países que mais
investem em educação: mais do que o Reino Unido (5,6% do PIB), a Suíça
(5,5%), os EUA (5,5%) e o Japão (3,8%). Não obstante, apresentamos um
dos piores desempenhos. Vamos ver: a Holanda investe percentualmente
pouco mais do que nós: 5,9% do seu PIB. Está em 10º lugar no Pisa, o
exame internacional que mede a proficiência dos estudantes. Investindo
5,7%, o nosso país está em 53º lugar.
Vejam a
tabela de países da OCDE com o percentual de investimento em relação ao
PÌB, a posição no ranking e o desempenho no PISA.
Se este
país chegar mesmo a investir 10% do seu PIB em educação — o que, se
querem saber, duvido que aconteça um dia —, saltará para o topo do
ranking, sempre considerando, claro!, que o nosso Produto Interno Bruto
está ali pelo sétimo ou oitavo lugar. E sabem o que vai acontecer? Se
não houver uma profunda reforma no sistema educacional, a resposta é
nada. Teremos quase o dobro do gasto de hoje para colher os mesmos
resultados pífios.
Evidentemente,
os dias não andam sensíveis para ponderações como esta. Mas, graças a
Deus, não sou político e não preciso de apoio a propostas impossíveis,
de óbvio apelo demagógico, que, sei, não sairão do papel. Dado o modelo
educacional brasileiro, mais dinheiro significará apenas mais
ineficiência.
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