quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Notas de Rodapé sobre o IMPA

Nota de rodapé do José J. de Espíndola  
 * "O Impa preza a meritrocacia" . Se não fosse assim, não teria premio Fields. As instituições acadêmicas do mundo avançado, que produzem ciência e tecnologia de qualidade, que são agraciadas com reconhecimento e prêmios relevantes, prezam a meritocracia. As instituições que, ao contrário, fustigam a meritocracia, prezam a mediocridade  
** "O Impa é uma instituição elitista". De novo, se não fosse assim, não teria prêmio Fields. Elitista não quer dizer, como a mediocridade quer fazer entender, gente frequentadora do "café society", que aparece nas páginas da revista Caras, ou simplesmente que nasceu em berço de ouro. Pelo contrário, o elitismo do Impa e das boas universidades do mundo não é compatível com o elitismo de Caras, do "café society", das colunas sociais. Nem distingue raça, origem (inclusive social), nem fortuna, tanto que reserva bolsas para os carentes de recursos financeiros. Mas não reserva vagas para os carentes de recursos cerebrais. A única exigência do elitismo acadêmico é a capacidade intelectual para entender a complexidade das ciências, das engenharias e a demonstração de que, após uma profunda formação, poderá o candidato ampliar o estado da arte do seu campo de conhecimento

Disponível em: http://www.apufsc.org.br/noticias.php?id_noticia=417

Inpa

Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/gestao-escolar/instituto-nacional-de-matematica-pura-e-aplicada-626353.shtml

ENSINO SUPERIOR

Nossa pequena Harvard

Escondido em meio à Floresta da Tijuca e pouco conhecido até mesmo dos cariocas, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada rivaliza em excelência com as melhores universidades americanas

02/05/2011 12:15
Texto Caio Barretto Briso
Veja Rio
Foto: Germano Luders
Foto: Welington de Melo, Jacob Palis e Artur Ávila, na Biblioteca do Impa: três gerações de talentos
Welington de Melo, Jacob Palis e Artur Ávila, na Biblioteca do Impa: três gerações de talentos
Passada a primeira curva da Estrada Dona Castorina, que leva ao mirante da Vista Chinesa, no bairro do Horto, sobressai a entrada de uma propriedade cercada pelas árvores da Floresta da Tijuca. Ali, em um terreno de 15 000 metros quadrados, um vasto prédio se esparrama por três alas. Pelos corredores, o silêncio monástico é cortado de tempos em tempos por diálogos em português, inglês, francês e espanhol. Não raro, incorporam-se a essa babel de idiomas expressões em russo e mesmo persa, uma das línguas mais antigas do planeta. É nesse ambiente, mistura de bucolismo e aldeia global, que 226 matemáticosdesenvolvem estudos complexos e projetos de repercussão internacional. Embora não seja muito conhecido entre os próprios cariocas, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) é unanimemente apontado entre os especialistas como um dos principais centros de pesquisa do mundo. Ancorado em sólida produção científica, exibe uma performance surpreendente, ultrapassando índices de departamentos de universidades americanas como Harvard, Princeton e Berkeley. Segundo dados da American Mathematical Society, a instituição brasileira publica, em média, 2,03 artigos relevantes por pesquisador ao ano, enquanto Harvard alcança 1,89 e Princeton, 1,83. "Sempre buscamos a excelência, e essa performance é apenas o resultado desse compromisso", orgulha-se o diretor César Camacho.

Sabe-se que um núcleo de ensino superior se torna respeitado à medida que consegue atrair talentos dos quatro cantos do globo. Entre os centros americanos, considerados os primeiros do mundo, a presença de acadêmicos estrangeiros chega a 30%. No período áureo do sistema universitário alemão, na década de 20 e início dos anos 30, quando a importação de cérebros era incentivada, o país produziu 21 prêmios Nobel. Portanto, faz parte da vocação de uma ilha de excelência reunir grandes cabeças, independentemente de onde elas estejam. Um recente processo para a escolha de dez vagas nos programas de pesquisa e pós-doutorado dá uma ideia da reputação internacional do Impa. Anunciado o "vestibular", apareceram 185 candidatos. Da Europa, vieram 66. Da Ásia e América do Norte, 43 e 26, respectivamente. Os latino-americanos perfaziam 28, enquanto os brasileiros eram 23. Encerrada a seleção, apenas duas posições foram ocupadas por estudantes daqui, um cearense e uma gaúcha. Outras sete foram divididas por representantes de nações diferentes (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, Portugal, Israel e Rússia). E detalhe: uma última vaga permaneceu em aberto por falta de postulante suficientemente qualificado. "Não temos cota. Simplesmente escolhemos os melhores", diz Camacho. Uma vez selecionados, os pós-doutorandos ganham 7 500 reais mensais, enquanto os pesquisadores têm salários entre 12 000 e 15 000 reais.

Não é fácil reproduzir em palavras todo tipo de trabalho desenvolvido no câmpus do Horto - para isso, seria melhor fazer uso de equações e algoritmos. Alguns projetos, porém, são de fácil entendimento. Existem aplicativos para iPhone, simuladores de realidade virtual e até um recorde mundial alcançado em 2010: uma imagem com a maior resolução gráfica do planeta. Tamanha produtividade, pouco comum entre nós, pode ser explicada por diversas razões. Mas a principal delas é a capacidade dos que ali estão. O Impa tem formado sucessivas gerações de gente que faz diferença. O mais reconhecido é Jacob Palis, 71 anos, tido como gênio mundial dos sistemas dinâmicos. No ano passado, Palis, doutor por Berkeley, nos Estados Unidos, foi agraciado com o Prêmio Balzan, uma das principais distinções europeias. Além de ser o primeiro brasileiro a receber a honraria - e o 1,2 milhão de reais que a acompanha - , Palis tornou-se o sétimo matemático a entrar para o grupo de agraciados. Empenhado em transmitir seus conhecimentos, ele se emociona ao relembrar que orientou 41 teses de doutorado ao longo da carreira. Desde então, esses mesmos doutores já formaram outros 150 matemáticos do instituto. "Essa é a essência do conhecimento, em que os mais experientes formam os mais jovens, sucessivamente", resume.

Tal filosofia, fortemente baseada na meritocracia, deu origem a uma linhagem de superpesquisadores como Marcelo Viana, Ricardo Mañé e Welington de Melo, reconhecidos no Brasil e no exterior pela notória desenvoltura com números. E desaguou em prodígios como Artur Ávila, de 31 anos. Ele é considerado o mais forte candidato a ganhar a medalha Fields, uma espécie de Prêmio Nobel de Matemática, entregue a cada quatro anos. Seria o primeiro brasileiro a conquistá-la. Há uma década, antes mesmo de ter um diploma de graduação, ele havia concluído seu doutorado no Impa. Famoso no exterior pela capacidade de resolver os problemas mais complexos, ele se divide hoje entre Paris, onde é um dos diretores do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), e o Rio de Janeiro. "A maioria das pessoas só conhece o tema nos tempos de escola e ignora o vasto horizonte nessa área", diz. Ávila, de fato, respira o assunto. Não raro, acorda no meio da noite com ideias e novos caminhos para suas teses. Durante o banho, nas caminhadas e até no metrô, as equações lhe vêm à cabeça. Costuma dizer que prefere não dirigir porque, devido a sua capacidade de abstração, poderia perder a concentração e bater o carro.

Por qualquer ângulo que se olhe, a educação brasileira está longe do ideal. Em seu ranking mais recente sobre o ensino fundamental, a Unesco atribuiu ao país a 88ª posição entre as 127 nações analisadas - atrás de Bolívia e Namíbia. Outra lista, sobre as 200 melhores universidades do mundo, feita pela revista inglesa Times Higher Education, não incluiu nenhuma das nossas. Ou seja: estamos mal em cima e em baixo. Por não ter cursos de graduação e se dedicar unicamente à matemática, o Impa não é avaliado nesse tipo de levantamento. Mas sua trajetória poderia servir de exemplo e inspiração. Criado pelo governo federal em 1952, o instituto surgiu antes de outros correlatos - como o de Pesquisas Espaciais em São José dos Campos (SP) e o da Amazônia, em Manaus. Com o tempo, graças à adoção de um sistema de gestão diferenciado, foi se descolando de seus pares. Trata-se de uma organização que recebe repasses públicos, mas tem independência administrativa. Com isso, as contratações e os investimentos são mais ágeis. Se a direção julgar procedente, os acadêmicos poderão ser punidos com a demissão. "Isso faz uma enorme diferença, pois dá autonomia. Pesquisa não se faz no improviso", afirma o economista Claudio de Moura Castro, especialista e consultor na área.

Costurados com carinho, os laços com a iniciativa privada têm se mostrado outro importante diferencial. A cada ano, o instituto recebe 18 milhões de reais em repasses do Ministério da Ciência e Tecnologia. Mas, além de administrar tais recursos com rigor, busca também financiadores externos, seja através de parcerias, seja por meio de simples filantropia. Desde 2007, por exemplo, o economista e ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga doou 1,6 milhão de dólares para seus cofres. O dinheiro foi destinado à criação de um posto permanente de pesquisador. Em seguida, foi a vez de o banqueiro Pedro Moreira Salles e seu irmão, o cineasta João Moreira Salles, destinarem 660 000 reais para a manutenção de duas vagas de doutorado e mais duas de pós-doutorado. O último a entrar na lista foi o célebre matemático americano James Simons, dono de uma fortuna de 10,6 bilhões de dólares e o 74º homem mais rico do mundo. No início do ano, ele se comprometeu a aplicar 1,6 milhão de dólares. "A matemática é fundamental para a boa educação, e o Impa é um centro de padrão máximo global, talvez a instituição brasileira de maior prestígio internacional", explica Fraga. "De lá saem pessoas que espalham pelo Brasil ideias e padrões essenciais, vitoriosos."

Nas grandes universidades do mundo, os pesquisadores de ponta gozam de uma invejável independência, seja para dispor de seu tempo, seja para escolher os rumos de seu trabalho. O mesmo acontece com os matemáticos da ilha de excelência carioca. O fato de não terem de dar aulas para graduação lhes permite uma maior dedicação a seus próprios projetos. É curioso observar que, frequentemente, um estudante de determinada área não entende absolutamente nada das outras. "Eu sou da computação gráfica e as outras especialidades são praticamente outra língua para mim", confessa Diego Nehab. Aos 34 anos, ele é representante da nova geração de estudiosos do instituto. Doutorou-se em Princeton e passou pelo centro de inovação da Microsoft, na costa oeste americana. Com tantas credenciais, Nehab poderia ter continuado nos Estados Unidos, mas, quando soube da vaga, decidiu que era a hora de voltar. "Aqui tudo funciona. Os equipamentos são ótimos", diz ele. Trajetória semelhante teve Carolina Araújo, de 34 anos. Como Nehab, ela fez doutorado em Princeton. Lá, sua sala ficava no mesmo andar do escritório de John Forbes Nash, ganhador do Nobel de Economia em 1994 - e inspirador do filme Uma Mente Brilhante. "Ele ia diariamente à universidade. Sempre nos cumprimentávamos", recorda. A perspectiva de desenvolver projetos na área de geometria algébrica a animou a trocar os Estados Unidos pelo Rio. Com isso, tornou-se também a única mulher a ocupar um posto na elite do Impa.

Presenças marcantes no belo câmpus do Horto, os estrangeiros parecem se sentir em casa. Adepto de um uniforme pouco usual entre as estrelas acadêmicas de seu país, o argentino Reimundo Heloani, de 33 anos, percorre os amplos corredores do instituto de camiseta, bermuda e chinelo de dedo, aliás um visual comum por ali, principalmente entre os expatriados. Com especialização no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e em Berkeley, escolheu o Brasil para fazer suas pesquisas em uma área aqui ainda pouco explorada, a física matemática. O inglês Robert Morris, de 30 anos, segue o mesmo estilo. Graduado na Universidade de Cambridge, o maior celeiro de prêmios Nobel do planeta (82 no total), ele se diz apaixonado pelo Rio: "O salário é ótimo, muito parecido com o que se paga na Europa. Além disso, os colegas são mais abertos para a troca de conhecimento". Com sua mistura de rigor acadêmico e informalidade, o Impa atrai até representantes de culturas longínquas, como o iraniano Hossein Movasati. Há quatro anos na cidade, após uma experiência na Alemanha e no Japão, ele foi o primeiro de seu país a estudar na nossa pequena Harvard. Agora, espera que conterrâneos sigam seus passos. "Outros virão", avisa Movasati. As portas estão abertas. Mas apenas para os melhores.

Artur Avila V

Texto Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/mercados/mercado-de-ideias/o-genio-indomavel-e-os-mecenas-escondidos/
12/08/2014
 às 20:47 \ Mercado de ideias

O gênio indomável e os mecenas escondidos

Nerds, 1.  Jogadores de futebol, zero.
A notícia de que um brasileiro receberá pela primeira vez a Medalha Fields, o “Nobel de Matemática”, deveria aplacar na alma nacional a amargura do 7 a 1 da semifinal da Copa e sugerir que a pátria amada se faz não só com chuteiras mas também com algoritmos.Avila
Mas acima de tudo, o prêmio dado a Artur Avila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, mostra a importância das doações de empresas e indivíduos para a pesquisa fundamental no Brasil.
Avila continua estudando no Impa, e não apenas no exterior, em grande parte graças a uma doação de Arminio Fraga, que criou uma cátedra no instituto.
Fraga está ‘apenas’ devolvendo à sociedade parte de seu sucesso na vida privada, na qual aprendeu sobre os intestinos dos mercados como operador de George Soros e, mais tarde, fundou a gestora Gávea Investimentos. Em sua vida pública, introduziu o sistema de metas de inflação no Brasil como presidente do Banco Central, e atualmente é cotado para Ministro da Fazenda num eventual Governo Aécio Neves.
Não, esta não é uma propaganda — subliminar ou explícita — de um candidato, até porque a crença na pesquisa e no progresso não é nem pode ser monopólio de nenhum ente político — e sim uma obsessão do Estado, com a qual a parte de cima da pirâmide deveria contribuir com muito mais do que os trocados da isenção fiscal.
“É preciso que haja mais pessoas que entendam a importância de pesquisa básica e doem,” Vinicius Carrasco, um pesquisador da PUC-Rio, postou no Twitter. “Nos EUA, grande parte dos recursos vem de doações. É preciso haver mais doadores. Minha instituição faz esforço enorme e consegue pouco. Pela enormidade que é, [o] Impa também consegue pouco.”  Veja aqui os doadores da PUC.
Nem tudo, no entanto, é questão de dinheiro. Comandado por César Camacho, o Impa tem uma gestão em linha com as melhores universidades do mundo. Quando contrata um professor, a seleção não se restringe ao Brasil: é feita no mundo todo. O candidato não precisa nem falar português. O critério é meritocrático, bastante diferente da maior parte das universidades federais do Brasil. O modelo do Impa mostra como um ente público, meritocrático e com apoio privado, pode ser extraordinariamente bem-sucedido.
Há alguns anos, a Vale quis fazer uma grande doação para um instituto de estudos de sustentabilidade na USP. A universidade aceitou os recursos, desde que a Vale não pudesse escolher como o dinheiro seria gasto. Resultado: a doação da Vale acabou na Columbia University, em Nova York.
O Brasil tem que ter orgulho da Vale, da Embraer, e de suas várias outras grandes empresas de padrão mundial. Mas para termos um Google, uma Apple e uma Intel, precisamos de mais Avilas, modelos de gestão abertos e mais doadores com visão de País.
Por Geraldo Samor

Artur Avila IV

Texto disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/por-que-o-impa-e-tao-diferenciado/
15/08/2014
 às 11:10 \ CulturaEducação

Por que o Impa é tão diferenciado?


Artur Avila, carioca do Impa que ganhou o “Nobel da matemática”
Antes de mais nada, gostaria de registrar com algum atraso meus parabéns a Artur Avila pelaMedalha Fields, considerada o “Nobel da matemática”. Avila é meu conterrâneo, um carioca com apenas 35 anos e pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Foi o primeiro brasileiro a receber tal prêmio, o que merece efusivos aplausos e serve de grande estímulo aos mais jovens.
Como disse Carlos Heitor Cony na rádio CBN hoje, o Brasil não tem tanta tradição em ciências exatas, apesar de ter ótimos pesquisadores na área. Historicamente, sempre demos mais peso às ciências humanas, o que talvez explique em parte nossa desgraça. Há muito antropólogo, filósofo, psicólogo, historiador e sociólogo, quase todos de esquerda, para pouco matemático, físico ou engenheiro. Somos bem diferentes dos asiáticos nesse quesito.
Nesse texto, pretendo apenas lançar algumas reflexões acerca do evidente sucesso do Impa, que já foi chamado de “Harvard brasileira” muito antes do prêmio, até porque coleciona diversos outros no currículo. Trata-se, sem dúvidas, de um instituto de pesquisa com enorme prestígio no país e no mundo. Por que?
Para começo de conversa, o Impa preza muito a meritocracia. É, nesse sentido, uma instituição elitista, sem preocupação com o preconceito que tal termo carrega hoje em nosso país. São poucos pesquisadores, pois a “democratização” do ensino, para usar o termo em voga pela esquerda, seria sinônimo, naturalmente, de caminhar rumo à mediocridade.
Em outras palavras, é preciso ser realmente diferenciado e demonstrar uma inteligência e um esforço acima da média para chegar e continuar ali. Cotas raciais? Inclusão social? Redução do nível de cobrança para abarcar o menor denominador comum? Nem pensar! Essas coisas não entram ali, e por isso mesmo o Impa pode preservar sua busca por excelência.
Em compensação, e por ser uma autarquia, o Impa paga bons salários, também acima da média, como deve ser para valorizar o mérito. Mas não pensem que é parecido com o que costuma ocorrer nas universidades federais e estaduais, com salários razoáveis, mas pouca cobrança. Os pesquisadores, para manter seu tenure, precisam entregar resultado. Não fazem concurso e depois se acomodam, como muitas vezes vemos nas federais. Precisam trabalhar mesmo, produzir, para garantir seu espaço.
O Impa também abraçou com vontade o mundo globalizado, compreendendo que o conhecimento relevante não tem nacionalidade. Preconceito com o estrangeiro, com o inglês, como vemos com frequência em nossa elite “intelectual”? Piada. Como diz a reportagem da Veja de 2011:
Pelos corredores, o silêncio monástico é cortado de tempos em tempos por diálogos em português, inglês, francês e espanhol. Não raro, incorporam-se a essa babel de idiomas expressões em russo e mesmo persa, uma das línguas mais antigas do planeta.
Ambiente estimulante e aberto para quem realmente quer pensar e pesquisar, assim é no Impa. E aceita doações também, de ricos empresários que desejam contribuir com seu avanço e ter uma cátedra com seu nome em contrapartida.
Ou seja, o Impa é a instituição brasileira de ensino avançado que mais se parece com as americanas. Por isso o rótulo de “Harvard brasileira” é justo. Ficou blindado da poluição ideológica que assola nosso país. Como diz a conclusão da reportagem: “As portas estão abertas. Mas apenas para os melhores”. E é graças a isso que saem de lá pesquisadores como o jovem Artur Avila. Parabéns!
PS: Nas áreas de humanas das federais e estaduais temos “professores” que se mascaram de black blocs e “ensinam” a seus alunos as “maravilhas” do marxismo. Marilena Chaui, da USP, ganha um belo salário para ficar acusando a classe média de ser “fascista” e despejar todo seu ódio contra trabalhadores “burgueses”. Guilherme Boulos, (de)formado em filosofia também na USP, lidera um grupo de invasores criminosos, financiados ninguém sabe direito por quem, para implantar no Brasil o “lindo” modelo cubano. Camila Jourdan, que dá aulas de filosofia na Uerj, foi até presa recentemente. Como cobrar bons resultados assim?
Rodrigo Constantino

Artur Avila III

Texto disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/pela-primeira-vez-um-brasileiro-vai-receber-o-nobel-da-matematica/comment-page-3/
12/08/2014
 às 19:17

Pela primeira vez, um brasileiro vai receber o “Nobel da Matemática”

O matemático Artur Avila, primeiro brasileiro a receber prêmio Fields, considerado o Nobel da Matemática (Divulgação/VEJA)
O matemático Artur Avila, primeiro brasileiro a receber prêmio Fields, considerado o Nobel da Matemática (Divulgação/VEJA)
Na VEJA.com:
O brasileiro Artur Avila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, vai receber a Medalha Fields, considerada o “Nobel de Matemática”. O anúncio foi feito na abertura do 27º Congresso Internacional de Matemáticos, em Seul, na tarde desta terça-feira (manhã da quarta, no horário sul-coreano). O prêmio é concedido a cada quatro anos pela União Internacional de Matemática a estudiosos com menos de 40 anos de idade que tenham alcançado resultados inéditos e revolucionários na área. Outros três especialistas serão premiados. É a primeira vez que um matemático latino-americano recebe a honraria.
“O anúncio me surpreendeu. Eu não esperava ter chances em 2014 (…) Minha reação inicial foi mais de alívio que de outra coisa, já que o prêmio agora significa que não vou ter de passar por mais quatro anos de pressão. Quando comecei como matemático, nem pensava nesse tipo de prêmio. Mas, desde 2008, começou a se falar nessa possibilidade e ficou impossível ignorar”, disse Avila, em comunicado divulgado pelo Impa. “O que eu mais queria (e continuo querendo) é fazer matemática da mesma maneira que no início. Por exemplo, escolhendo tópicos em que trabalhar por considerá-los atraentes, em vez de pensar em termos do reconhecimento que eles possam trazer.”
Avila, de 35 anos, é considerado um prodígio desde a adolescência. Antes mesmo de se formar na faculdade de matemática, em 2001, foi convidado a atuar como pesquisador do Impa, instituto supervisionado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, onde hoje ocupa a Cátedra Armínio Fraga. Dois anos depois, Avila recebeu convite para dirigir o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), em Paris — ele se naturalizou francês e realiza parte das pesquisas na França.
Nos últimos dez anos, o prestígio de Avila no meio acadêmico vem crescendo apoiado em estudos que buscam entender os sistemas dinâmicos, cujo estado evolui com o passar do tempo por influência de diversos fatores. A teoria desse ramo da matemática é utilizada para construir previsões em áreas tão distintas como física, biologia e economia.
Avila também ficou conhecido entre os estudiosos por conseguir provar, em 2005, a “Conjectura dos dez martínis”, problema proposto em 1980 pelo americano Barry Simon — que prometeu pagar dez copos da bebida a quem explicasse sua teoria sobre o comportamento dos “operadores de Schrödinger”, ferramentas matemáticas ligadas à física quântica. Junto com a pesquisadora Svetlana Jitomirskaya, Avila solucionou o problema e, de fato, foi premiado com algumas rodadas de martíni.
Desde 2010, há uma expectativa de que o brasileiro seja premiado com a Medalha Fields. Naquele ano, ele se apresentou na 27ª edição do Congresso Internacional de Matemáticos, realizado na Índia — uma honraria destinada a poucos. Desde a primeira edição do congresso, apenas nove brasileiros haviam sido convidados para palestrar no evento. Na edição deste ano, além de Avila, mais quatro brasileiros participam do congresso, entre eles o matemático Fernando Codá, que também era cotado para receber a medalha.
Por Reinaldo Azevedo

Artur Avila II

Texto disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/pela-primeira-vez-brasileiro-recebe-nobel-da-matematica

Pela primeira vez, brasileiro recebe o 'Nobel da Matemática'

Artur Avila, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, recebeu a Medalha Fields em cerimônia na Coreia do Sul

O matemático Artur Avila, primeiro brasileiro a receber prêmio Fields, considerado o Nobel da Matemática
O matemático Artur Avila, primeiro brasileiro a receber prêmio Fields, considerado o Nobel da Matemática(Divulgação/VEJA)
(Atualizado às 23h20)
O brasileiro Artur Avila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, se tornou o primeiro brasileiro vencedor da Medalha Fields, considerada o "Nobel de Matemática". O anúncio foi feito na abertura do 27º Congresso Internacional de Matemáticos, em Seul, na tarde desta terça-feira (manhã da quarta, no horário sul-coreano). O prêmio, que o matemático recebeu em cerimônia durante o congresso, é concedido a cada quatro anos pela União Internacional de Matemática a estudiosos com menos de 40 anos de idade que tenham alcançado resultados inéditos e revolucionários na área. Outros três especialistas foram premiados (confira a lista completa). Foi a primeira vez que um matemático latino-americano recebeu a honraria.
"O anúncio me surpreendeu. Eu não esperava ter chances em 2014 (...) Minha reação inicial foi mais de alívio que de outra coisa, já que o prêmio agora significa que não vou ter de passar por mais quatro anos de pressão. Quando comecei como matemático, nem pensava nesse tipo de prêmio. Mas, desde 2008, começou a se falar nessa possibilidade e ficou impossivel ignorar", disse Avila, em comunicado divulgado pelo Impa. "O que eu mais queria (e continuo querendo) é fazer matemática da mesma maneira que no início. Por exemplo, escolhendo tópicos em que trabalhar por considerá-los atraentes, em vez de pensar em termos do reconhecimento que eles possam trazer."
Avila, de 35 anos, é considerado um prodígio desde a adolescência. Antes mesmo de se formar na faculdade de matemática, em 2001, foi convidado a atuar como pesquisador do Impa, instituto supervisionado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, onde hoje ocupa a Cátedra Armínio Fraga. Dois anos depois, Avila recebeu convite para dirigir o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), em Paris — ele se naturalizou francês e realiza parte das pesquisas na França.
Nos últimos dez anos, o prestígio de Avila no meio acadêmico vem crescendo apoiado em estudos que buscam entender os chamados sistemas dinâmicos, cujo estado evolui com o passar do tempo por influência de diversos fatores. A teoria desse ramo da matemática é utilizada para construir previsões em áreas tão distintas quanto a física, a biologia e a economia.
Avila também ficou conhecido entre os estudiosos por conseguir provar, em 2005, a "Conjectura dos dez martínis", problema proposto em 1980 pelo americano Barry Simon — que prometeu pagar dez copos da bebida a quem explicasse sua teoria sobre o comportamento dos "operadores de Schrödinger", ferramentas matemáticas ligadas à física quântica. Junto com a pesquisadora Svetlana Jitomirskaya, Avila solucionou o problema e, de fato, foi premiado com algumas rodadas de martíni.
Desde 2010, há uma expectativa de que o brasileiro seja premiado com a Medalha Fields. Naquele ano, ele se apresentou na 27ª edição do Congresso Internacional de Matemáticos, realizado na Índia — uma honraria destinada a poucos. Desde a primeira edição do congresso, apenas nove brasileiros haviam sido convidados para palestrar no evento. Na edição deste ano, além de Avila, mais quatro brasileiros participam do congresso, entre eles o matemático Fernando Codá, que também era cotado para receber a medalha.
"Os grandes prêmios científicos são, essencialmente, símbolos que permitem levar a ciencia para o imaginário popular", disse Avalia no comunicado do Impa. "No caso do Brasil, imagino que essa conquista tenha uma importância particular, já que demonstra, de maneira clara, que temos condições de fazer ciência do mais alto nível."
A Medalha Fields é concedida aos talentos da matemática desde 1936. Daquele ano até 2010, 52 matemáticos haviam recebido o prêmio, com destaque para americanos, com doze medalhas, e França, com dez.
Repercussão — "O prêmio recebido por Avila mostra que há, no Brasil, boas condições para jovens que queiram buscar o reconhecimento internacional por meio da atividade acadêmica. Há excelentes centros de pesquisa com grande reconhecimento internacional, como o próprio Impa, que favorecem o desenvolvimento intelectual de estudantes ainda no ensino básico. O cenário está favorável à pesquisa científica. Contudo, precisamos aumentar a eficiência dos órgãos responsáveis pelo financiamento desses trabalhos, que atualmente sofrem com a burocracia exacerbada", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

Conheça os ganhadores da Medalha Fields 2014

1 de 4

Artur Avila - Brasil

Pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Artur Avila é, aos 35 anos, o primeiro brasileiro a ser homenageado com a Medalha Fields, sendo o mais novo entre os quatro ganhadores deste ano. Prodígio em sua área, a matemática pura, o matemático carioca, nascido 1979, obteve o título de PhD pelo Impa em 2001, mesmo ano em que terminou a faculdade de matemática na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Naturalizado francês, Avila também dirige, desde 2003, o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. Foi reconhecido pela União Internacional de Matemática graças ao seu trabalho na área de sistemas dinâmicos, tendo criado modelos matemáticos para explicar a probabilidade de um evento acontecer.

Artur Avila

Texto disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/um-brasileiro-no-topo-do-mundo


Especial

Um brasileiro no topo do mundo 

O carioca Artur Avila conquistou, aos 35 anos, o prêmio máximo da matemática por sua produção portentosa e constante de soluções para enigmas que há décadas desafiam seus pares

Monica Weinberg, de Paris
SENHOR DO CAOS - Avila e a borboleta, símbolo da teoria que o consagrou: em algum desvão escuro do caos esconde-se a ordem que só a matemática descobre
SENHOR DO CAOS - Avila e a borboleta, símbolo da teoria que o consagrou: em algum desvão escuro do caos esconde-se a ordem que só a matemática descobre      (Gilberto Tadday/VEJA)
A matemática possui não apenas verdade, mas também suprema beleza — uma beleza fria e austera, como a da escultura.” Para quem apanhou da matéria na escola, a definição do filósofo e matemático inglês Bertrand Russell (1872-1970) é uma afronta. Afinal, no mesmo instante em que esta reportagem está sendo lida, crianças e jovens em todas as partes do mundo estão repetindo em dezenas de idiomas: “Eu detesto matemática!”. Isso não a torna menos verdadeira, austera e bela. A matemática é a linguagem que a natureza usa para expressar seus segredos aos seres humanos e, assim, se deixar dominar por nosso intelecto. Embora alguns símios demonstrem habilidades básicas com números, reconhecendo conceitos como muito e pouco, o pensamento matemático é tão e somente humano quanto a linguagem e, quem diria, o comércio. Nenhuma outra espécie descobriu o potencial de criação de riqueza das trocas vantajosas para os dois lados. Sem a capacidade matemática, não teria havido civilização. Os grandes gênios que semearam o terreno dos números para a evolução do conhecimento sempre buscaram harmonia e beleza ao se mover na direção da verdade, a grande recompensa. No começo, eram cientistas no sentido universal do termo, mas, à medida que a disciplina foi ganhando complexidade, o desbravamento ficou a cargo de especialistas — ou ultraespecialistas. É a esse grupo seleto que pertence Artur Avila, 35 anos, o primeiro brasileiro a gravar seu nome entre os pesos-pesados da matemática deste século como ganhador da honraria máxima, a Medalha Fields, prêmio que ombreia em prestígio com o Nobel.
Nenhum brasileiro voou tão alto no mundo acadêmico. O jovem carioca do Leblon ingressou em um panteão no qual só entra quem dá nova estatura à ciência germinada pelos egípcios, cultivada pelos gregos e elevada às alturas pelos homens pós-Renascença. Apenas aqueles cujos trabalhos lançam verdadeira e duradoura luz sobre enigmas resistentes da matemática e têm potencial para produzir mais podem sonhar em ser lembrados para receber a Medalha Fields. O brasileiro Avila é desses poucos e felizes 56 agraciados — aí computados os que, como ele, receberam a distinção durante o Congresso Internacional de Matemáticos, na Coreia do Sul. Mais do que virtuoses em seus campos, eles são autores de descobertas que reverberaram de forma poderosa na comunidade científica pela originalidade e pelo poder de abrir novas portas para o saber. Quando tomou conhecimento, há dois meses, de que seria agraciado com a medalha, Avila conjecturou em sua lógica peculiar: “Ótimo. Pronto. Esse problema acabou”.
Divulgação/VEJA
A PIONEIRA - A iraniana Maryam Mirzakhani, a primeira mulher a ingressar no rol dos medalhistas Fields: só entram nessa seletíssima turma autores de trabalhos originais que reverberam no mundo do saber
“Artur Avila foi escolhido pelo conjunto da obra, um sinal de maturidade e vigor criativo”, explicou a VEJA o matemático francês Étienne Ghys, 59 anos, integrante da comissão que elegeu os atuais medalhistas. O número de publicações com seu nome nas principais revistas especializadas é três a quatro vezes maior do que as assinadas por geniozinhos da mesma idade: são 56 trabalhos feitos em colaboração com estudiosos de todo o mundo. Dali se extrai a maturidade. Artur “atacou” e “destroçou” (esse é o jargão) problemas que prendiam a comunidade acadêmica em labirintos teóricos fazia décadas. Diz ele: “Na matemática, você está perdido quase o tempo todo, sem nenhuma garantia de que vai sair do escuro, por mais força que coloque em cima de um problema”.
Nesse mundo de esforços sem garantias de sucesso, Avila foi escolher como sua especialidade justamente uma das áreas mais complexas. Seu nicho é conhecido pelos matemáticos como sistemas dinâmicos. Simplificadamente, é o campo que tenta encontrar ordem no caos ou descobrir padrões em certos fenômenos que, à primeira vista, parecem completamente aleatórios. Albert Einstein, talvez o maior gênio científico de todos os tempos, intuitivamente rejeitava a incerteza — e com sua famosa expressão “Deus não joga dados com o universo” quis dizer que o desmonte teórico de um sistema inevitavelmente abriria caminho para outro tipo de ordenamento. Einstein bagunçou a sinfonia celestial de sir Isaac Newton e o balé perfeito dos astros em suas órbitas. Einstein encheu o céu de galáxias instáveis, estrelas explosivas, buracos negros devoradores de matéria. Um caos. Mas um caos obediente a uma regra fundamental, única, imutável: nada pode superar a velocidade da luz. Essa constante harmoniza o universo de Einstein e o torna tão previsível que até Newton se daria por satisfeito. Mas onde estaria o equivalente da velocidade em outros sistemas nos quais certamente existem ordem e regras, mas elas estão escondidas? Bem, elas estão em desvãos que só a matemática consegue iluminar. É nesses desvãos que o brasileiro Artur Avila tenta ver ordem no caos, o que ilumina mas, para desespero de nosso cérebro limitado, não acaba com todos os enigmas, a exasperação que, de novo, Einstein formulou com perfeição: “A coisa mais incompreensível do universo é justamente o fato de ele poder ser compreendido”.
O mais incompreensível no caos é justamente o fato de ele poder ser compreendido. É a isso que se dedica o brasileiro premiado com a Medalha Fields na semana passada. Deve-se ao meteorologista americano Edward Lorenz (1917-2008) a primeira reflexão sistemática sobre, afinal, o que rege o caos. Lorenz concluiu que, mesmo de posse de todas as informações — temperatura, pressão, chuva, sol —, era impossível cravar a previsão do tempo com dias de antecedência. Isso porque uma imperceptível alteração no ponto de partida — o vento provocado pelo singelo bater de asas de uma borboleta, comparou ele famosamente — poderia alterar tudo, tudo mesmo. Daí a questão: “O bater de asas de uma borboleta no Brasil pode causar um tornado no Texas?”. O lugar onde a borboleta bate as asas e o efeito causado mudam ao gosto do freguês, mas a indagação central de Lorenz permanece: como, por que e em sistemas de que tipo eventos aparentemente insignificantes podem dar origem a fenômenos avassaladores aparentemente desconexos em pontos remotos? A melhor aposta em uma resposta está em Avila e seus colaboradores.
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SER OU NÃO SER? - Avila prova um de muitos ternos antes de escolher qual vestiria no dia de receber a Medalha Fields: para cada decisão da vida prática, mil e uma conjecturas
“A matemática é um ser vivo alimentado de lógica, fruto da mente humana, e Artur se nutre o tempo todo dele”, resume César Camacho, dire­tor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), onde o jovem fez o doutorado. As questões que o rondam, portanto, repousam nesse mundo de abstração e são de uma complexidade tal que muito matemático se perde. “Às vezes, nem mesmo meus coautores entendem o que escrevo”, reconhece ele, que não se incomoda em ser pouco compreendido. Fiel ao lema “Quanto mais complicado, mais interessante”, Avila resolveu estudar a evolução do movimento de uma bola em um bilhar pentagonal — no jargão, um “brinquedo” matemático. Por que pentagonal? Simples: no quadrado ou no hexágono tudo é muito previsível. A ideia desses “brinquedos” não é tornar o jogo de salão (que Avila, por sinal, não pratica) mais atraente, mas extrair deles leis que possam reger tanto bolas de bilhar quanto partículas subatômicas interagindo com campos magnéticos em uma dimensão quântica. “Grandes matemáticos impactaram de forma decisiva diversas áreas do conhecimento sem nunca ter ambicionado nem sabido disso”, lembra Jairo da Silva, doutor em lógica e epistemologia. O alemão Johannes Kepler (1571-1630) usou os princípios divisados 2 000 anos antes pelos gregos para descrever a órbita elíptica dos planetas. Wernher von Braun e os engenheiros do Projeto Apollo utilizaram tão somente os cálculos de Kepler para colocar o primeiro homem na Lua, em 1969. É uma cadeia de transmissão de verdades reveladas pela matemática graças à “beleza fria e austera” que Bertrand Russell viu nela.
A trajetória de Avila combina um talento anunciado cedo, a exposição a um ambiente que o puxou para a fronteira de sua área e o pragmatismo para fazer escolhas na carreira. Na escola ou no Impa, Avila era daqueles alunos que pareciam ter pouca expressão, mas, quando abria a boca, mostrava que estava dois, três anos à frente dos colegas e levantava questões que emudeciam os professores. Quando descobriu as olimpíadas de matemática, praticamente deu adeus à escola. Aos 16 anos, no Impa e já fazendo mestrado, esqueceu as olimpíadas. “Fez” (entre aspas mesmo) a faculdade de matemática, na Universidade Federal do Rio, junto com o doutorado. Aos 21 anos, Avila já tinha concluído o Ph.D. e ainda estava pendurado em álgebra linear “básica” porque perdera o exame. Vingou-se solucionando um problema no qual o professor trabalhava fazia uma década. Moral da história para Avila? “Nunca subestime um aluno.”

Vendo o invisível

As barras azuis acima parecem não ter significado. O olhar matemático, porém, distingue nelas a representação gráfica do Conjunto de Cantor. Proposto pelo alemão Georg Cantor no século XIX, esse conjunto é fechado, infinito não numerável, fractal e tem medida nula. Entendeu? Não. Então bem-vindo ao grupo formado por 99,999% da humanidade. Artur Avila faz parte de uma minoria do restante 0,001% de pessoas que não apenas sabem que Cantor formulou uma pedra fundamental da matemática, mas que são capazes de aplicar esse conhecimento a outros campos da ciência.
No caso de Avila, foi a física quântica, em especial a teoria segundo a qual, na interação com um campo magnético, um elétron adquire diferentes estágios de energia, formando um espectro ou leque que, por Deus não jogar dados com a natureza, deveria ter uma sequência não aleatória. Os físicos quânticos, coitados, não podem, por definição, medir diretamente os fenômenos sem arruinar todo o processo. Eles então teorizaram que o leque de energia do elétron deveria ser um Conjunto de Cantor. Avila deu a eles a certeza matemática de que é isso mesmo e, assim, fez o invisível se tornar visível.
Filho de funcionários públicos, ele escolhe onde e como quer trabalhar. Há treze anos, reveza-se entre o Rio, onde segue baseado no Impa, e Paris, onde aprendeu a apreciar foie gras e tornou-se diretor de pesquisas no Centro Nacional de Pesquisa Científica, uma espécie de CNPq. O cargo é pomposo, mas, tirando um ou outro formulário que precisa preencher, Avila se recusa a deixar que as aparências de ordem, sejam burocráticas, sejam acadêmicas, perturbem seu caos criativo. Oficialmente ele divide uma sala na Universidade Paris VI com um colega que ele nunca viu. No Rio, faz da praia o “escritório”. Conta que um amigo dos tempos do Colégio São Bento, onde passou quase toda a fase escolar, achava que sua vida era tão mansa que decidiu entrar para a faculdade de matemática. “Claro que não funcionou”, lembra Avila. Fazer política não é com ele. Diz um ex-colega do Impa, Jairo Bochi, 39 anos: “O Artur não assiste a palestras só por educação e não perde tempo com quem não lhe interessa”.
Sua casa em Paris fica estrategicamente localizada a poucos minutos a pé de alguns dos melhores centros da matemática do mundo: na Rua D’Ulm, próxima ao Panteão, enfileiram-se a École Normale Supérieure, o Collège de France e o Instituto Poincaré. O espremido apartamento parisiense é um caos à procura de ordem: roupas no sofá, no chão, na mesa, documentos espalhados e caixas vazias de leite. Nenhum livro à vista. O último que leu foi O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, em 2009. “Perdi esse hábito, prefiro conversar”, diz. A escolha do terno, a barba e o corte de cabelo para ser apresentado ao mundo na cerimônia da premiação em Seul se transformaram em odisseia. De frente para o Museu do Louvre, no qual nunca botou os pé nesses anos todos de Paris, ele conclui: “Só a matemática me interessa”.